A África se agarra ao sucesso econômico - Blog do CaraECULTURANEGRA

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29 de outubro de 2017

A África se agarra ao sucesso econômico

 A África se agarra ao sucesso econômico

      A região gera bilionários e multinacionais que rejeitam os conflitos políticos

   Fernando Barciela - El País

O auge econômico da África foi tão repentino que muitos ainda custam a se acostumar com a ideia de que esse continente, esquecido e dizimado pelas guerras, está a caminho de se transformar em uma espécie de novo território emergente. E não estamos falando da África do Sul, que já é uma potência em formação, mas sim de uma série de novos países da África Ocidental e Oriental, como a Nigéria, o novo gigante, o Senegal, Angola, a Costa do Marfim, o Quênia, Etiópia, Ruanda e Uganda. Expectativas baseadas no fato de que a África vem protagonizando nestes últimos anos um dos crescimentos de PIB mais elevados do mundo, atrás apenas da Ásia. “As previsões são de que a África subsaariana cresça 5,8% neste ano e ainda mais em 2015”, afirma Tomás Guerrero, pesquisador da EsadeGeo e especialista em África.                                                                                                                                
O que explica essa aceleração? Segundo Luis Padilla, analista para a África da OCDE, “cinco fatores foram decisivos: a forte demanda dos países emergentes por matérias-primas, o boom demográfico, uma classe média em ascensão, um mercado interno mais dinâmico e um crescente investimento estrangeiro”.
Este verdadeiro ciclo virtuoso começou com o sucesso das matérias-primas, no início dos anos 2000, impulsionado pelas compras feitas por empresas chinesas, ávidas de recursos minerais e agrários, e que não se deteve apesar da desaceleração da economia asiática. Mas essa foi apenas a alavanca inicial. A África já é muito mais do que minerais. Alguns países aproveitaram os rendimentos do petróleo, do cobalto e do cobre para realizar uma transformação econômica que começa a dar resultados. A primeira missão que se impuseram foi aproveitar a intervenção do FMI para conquistar certa estabilidade econômica. “Por causa dos desequilíbrios que sofriam, como inflação, dívida ou setores públicos superdimensionados, esses países não tiveram outra saída senão se submeterem, no início dos anos 2000, à medicina do FMI. O que lhes caiu bem, porque agora estão bastante estabilizados, com as contas públicas controladas e baixa inflação”, explica Manuel de la Rocha Vázquez, economista da Fundação Alternativas.
Tudo isso foi seguido de um árduo trabalho de modernização das estruturas econômicas, burocráticas e judiciais, que, de acordo com De La Rocha, “melhoraram muito a segurança jurídica e o ambiente para os negócios”, e ainda ajudaram os países mais avançados – Nigéria, Quênia, Gana, Angola – a atrair mais investimentos e projetos empresariais. Por fim, houve também um esforço das elites locais para conquistar uma maior estabilidade política. Apesar de ainda existirem ditaduras e de algumas das democracias serem de baixa qualidade, a democracia segue avançando. “Ainda que seja difícil de generalizar, existe toda uma transição política em andamento, o que dá confiança aos investidores”, reconhece Vicente Dorta, diretor geral da Câmara de Comércio de Tenerife, a que mais tem relações com a região. Os conflitos que ainda persistem na região do Sahel e no Sudão estão cada vez mais esporádicos no resto da África.
Outro dado a se levar em conta em um ambiente de crescimento econômico é o da grande demografia africana. Para Guerrero, isso “representa um desafio, mas também uma alavanca de crescimento e uma oportunidade para garantir um crescimento sustentável a longo prazo”. O pesquisador lembra que “a África tem a população mais jovem do mundo, com 200 milhões de pessoas com idades entre 15 e 24 anos, e ressalta que as pessoas em idade para trabalhar cresceram de 440 a 550 milhões entre 2000 e 2008”. Padilla acrescenta que, além disso, a crescente demografia fará da África um mercado gigantesco “que vai, em poucos anos, passar de 1 a 2 bilhões de pessoas”. E estas serão cada vez mais de classe média, já que “nos últimos 10 ou 15 anos, cerca de 400 milhões de africanos se incorporaram nessa faixa”.
A combinação de todos esses fatores está fazendo da África um grande receptor de capital, sobretudo de investimento estrangeiro direto. “Segundo o último relatório Africa Economic Outlook da OCDE, este ano o investimento vai alcançar os 84 bilhões de dólares (quase 187 bilhões de reais), um recorde”, explica Padilla. Além disso, há as remessas de valor de 61 bilhões de dólares e uma ajuda ao desenvolvimento na ordem de 55,2 bilhões de dólares. Boa parte do investimento é destinada à exploração de recursos minerais e petróleo, mas também para instalar empresas e construir infraestrutura. E apesar das empresas chinesas, nos primeiros anos do auge, terem obtido os contratos de construção, agora começam a desembarcar companhias europeias, brasileiras e indianas. Isso porque a necessidade de infraestrutura é enorme. A África continua sendo o continente mais mal equipado do mundo. Apenas um quarto da população tem energia elétrica.
O continente está se beneficiando da rápida criação de núcleos empresariais. As revistas de economia africanas publicam rankings de empresas, e de jovens e ricos empresários, no estilo da Forbes. Segundo a Ventures Africa, o continente teria agora mais de 50 bilionários, a maior parte dele de self-made men, fundadores de empresas. De acordo com o ranking da Forbes de 2014, eles seriam apenas 29 - nove a mais dos que no ano passado. O mais rico é o nigeriano Aliko Dangote (das áreas de cimento, cereais e petróleo), com uma fortuna de 25 bilhões de dólares, 9 bilhões a mais do que em 2013. A lista é liderada pelos sul-africanos, mas começam a aparecer rivais na Nigéria, em Ruanda e no Quênia. E se é certo que muitos fizeram suas fortunas com o petróleo e a mineração, os mais recentes estão vindo das áreas de telecomunicações, distribuição, agronegócio e bens de consumo. O nigeriano Abdulsamad Rabiu ficou bilionário com a indústria manufatureira, a siderurgia, transporte e infraestrutura; o também nigeriano Mike Adenuga, com os telefones celulares, e o ugandense Sudhir Ruparelia com bancos, seguros e hotelaria.
Essa geração de bilionários e de novas empresas não foi extravagante, graças ao esforço dos Governos. “Uma das maiores preocupações das elites políticas africanas é fazer a transição de economias extrativas a economias industriais e de inovação”, afirma Padilla. Vários países estão trabalhando para se integrar nas cadeias de produção internacionais. A África do Sul fez isso com a indústria automobilística, e Gana, Quênia e Etiópia o estão fazendo com suas indústrias de alimentos. E já estão sendo criados parques tecnológicos da África do Sul ao Quênia, passando pela Nigéria.




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