Uma grande festa com centenas de pessoas marcou as comemorações do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, nesta segunda-feira, no Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Este ano, o tom do evento ficou com o título recebido pela Serra da Barriga, em União dos Palmares (AL), de Patrimônio Cultural do Mercosul.
A programação começou ainda na madrugada, com a celebração de rituais religiosos de matriz afro. Por toda manhã, rodas de capoeira, grupos de percussão e cantos animaram os presentes. Moradores de todo o estado de Alagoas, entre eles alunos de escolas públicas, e turistas compareceram aos festejos.
A solenidade contou com a participação do presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Erivaldo Oliveira, do governador de Alagoas, Renan Filho, do prefeito de União dos Palmares, Kil Freitas, e do primeiro presidente da Fundação Palmares, Carlos Moura, além de autoridades federais, estaduais e municipais, do meio acadêmico, dos quilombolas, dos capoeiristas, dos povos de terreiro e da sociedade civil em geral.
O presidente da FCP entregou aos membros da Comunidade Quilombola Muquém, de União dos Palmares, o Selo Quilombola. O documento resulta de parceria entre a Fundação Palmares a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário. A artesã Albertina Nunes recebeu o selo, que agrega valor às atividades dos remanescentes de quilombos. Depois, Erivaldo Oliveira e Renan Filho deram os certificados de conclusão da capacitação para multiplicadores do projeto Conhecendo Nossa História: da África ao Brasil, uma iniciativa da FCP em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e prefeituras.


Império da Guiné
A cerimônia teve também um lançamento importante, do jogo Império da Guiné, desenvolvido pela Fundação Palmares e Instituto Federal de Brasília (IFB). O material será trabalhado em escolas que aderiram ao Conhecendo Nossa História, apresentando aspectos diplomáticos culturais e científicos da África. Ainda no evento, o governador Renan Filho assinou a ordem de serviço para implantação de mais de 7km de asfalto no acesso à Serra da Barriga, o que deve contribuir para fortalecer o turismo na região.
Erivaldo Oliveira agradeceu o apoio do governo estadual para o desenvolvimento da Serra da Barriga, localidade que no passado abrigou o Quilombo dos Palmares, onde Zumbi dos Palmares liderou a luta pela liberdade do povo negro. O presidente da FCP adiantou que em 2018 sua instituição vai propor a candidatura da Serra da Barriga ao título de Patrimônio Cultural da Humanidade na reunião da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). “Hoje o setor de turismo é o que mais cresce no mundo inteiro. Queremos fazer daqui um lugar de grande visitação, mas de forma organizada, com as pessoas aprendendo sobre a religiosidade de matriz afro, sobre o gingado da capoeira e sobre a história de Zumbi dos Palmares”, destacou.
Carlos Moura lembrou que a história da Fundação Palmares começou no fim dos anos 80, depois que militantes do movimento negro conheceram a Serra da Barriga. “Meus cumprimentos à Fundação Palmares pelo excelente trabalho. Não basta só denunciar o racismo e o preconceito. É preciso ter políticas públicas como as que esta instituição realiza”, elogiou o primeiro presidente da Fundação, que em 2018 comemora 30 anos de surgimento.
O prefeito Kil Freitas observou que a chegada do título de Patrimônio Cultural do Mercosul coincide com um momento de mudanças para União dos Palmares. Renan Filho parabenizou a Fundação Palmares pelo trabalho realizado na promoção da cultura e na defesa dos direitos do povo negro. “Hoje é um dia especial, o primeiro 20 de novembro tendo a Serra da Barriga como Patrimônio Cultural do Mercosul. Viva Zumbi! Axé”, afirmou Renan Filho.

A cada ano, uma surpresa
Para quem compareceu à festa do Dia da Consciência Negra, junto com a comemoração da data havia o orgulho pelo reconhecimento do Mercosul, que contou com campanha empreendida pela Fundação Palmares. A jovem Ekedi Lucélia Tainá participa dos festejos desde criança e trazia a alegria estampada no rosto. “Cada ano, temos uma surpresa. Em 2017, é o título para a Serra. Significa mais uma reverência à memória do nosso herói, Zumbi dos Palmares”, ressaltou Lucélia.
O estudante Jeiverson Bernardo contou que é importante prestigiar os eventos do Dia da Consciência Negra. “Esta data nos faz refletir sobre as questões do povo negro por todo o ano”, disse. O técnico de enfermagem Jadiel Rodrigues subiu a serra pela primeira vez e ficou feliz com o que viu. “Nem dormi nessa noite. Estou bastante empolgado”, revelou Jadiel.
Para o ativista do movimento negro e professor Zezito Araújo, o título dado pelo Mercosul inaugura um novo capítulo na história da Serra da Barriga. “Vivemos um resgate dos nossos valores. A população alagoana está tomando conhecimento do que aconteceu aqui e, automaticamente, melhorando sua autoestima”, declarou Zezito.
As comemorações do Dia da Consciência Negra prosseguiram ao longo do dia em União dos Palmares. À noite, haverá show gratuito com a cantora alagoana Naná Martins, que cantou o Hino Nacional na cerimônia no Parque, e da baiana Margareth Menezes.

Fonte::PALMARES